Por: Alessandro Buzo
Me chamo Alessandro Buzo e tenho 40 anos.
Sou escritor, apresentador de TV e cineasta, mas antes disso sou verdadeiro, maloqueiro e palmeirense.
Nascido e (mal)criado no Itaim Paulista, ultimo bairro da zona leste de SP, com 450 mil habitantes.
Se o Itaim Pta hoje está no mapa cultural da cidade, tenho minha parcela de culpa nisso, com prazer e orgulho.
Se o bairro agradece por isso ? Não importa. Afinal de contas nunca fiz nada esperando "NADA" em troca.
Fui uma criança comum e até os 10 anos, era o mais classe média entre os meus amiguinhos no Jd Olga/Itaim. Meu pai era metalurgico, trabalhava numa montadora de carros e durante toda minha infância no pobre (naquele tempo) Jd Olga eu era um privilegiado, tinha bem mais (roupas, brinquedo, comida), que meus amigos.
Passados mais alguns anos, meu pai nos deixou e as coisas mudaram, virei pobre (de fato).
Aos 13 anos tive que ir trabalhar pra ajudar minha mãe.
Tomei porrada da vida, do sistema.
Mas o que não mata, fortalece.
Sobrevivi.
Sobrevivi ao violênto Itaim Pta dos anos 70.
Sobrevivi ao ABANDONADO Itaim Pta dos anos 80.
Sobrevivi ao consumo de droga no Itaim Pta dos anos 90.
E nos anos 2000, sobrevivi como pai de família, ciente dos seus deveres e tendo que manter a esposa e filho, ganhando menos de R$ 1.000,00 por mês.
Sobrevivi, viu polícia militar.
Sobrevivi, viu meus ex-patrões.
Sobrevivi, viu políticos sem vergonha que só botam a cara de 4 em 4 anos.
Mais que isso, renasci.
Parei de usar droga em 1997.
Casei em 1998 (14 anos com Marilda Borges em 26/09/12), um dia depois dos meus 40 anos.
Ganhei de Deus em 2000 meu filho Evandro.
Lancei meu primeiro livro em 2000.
Passei altos perreios financeiros em 2001, 2002, 2003. Sobrevivi. Ou melhor, sobrevivemos. Morando num barraco (alvenaria) de 2 comodos em cima de um corrego.
2004 segundo livro, 2005 terceiro, 2006 o quarto, 2007 cheguei numa editora e lancei pela primeira vez em livraria chic, 2008 estreia na TV Cultura, 2009 fiz um filme, durante esses anos continuei lançando livros, 2011 cheguei ao SPTV da Rede Globo e levei comigo a periferia, a favela, a nossa cena cultural que eu conheço não de pesquisar, nem de fazer tese (não tenho nem o primeiro grau), conheço de fazer parte.
Sobrevivi e renasci a partir da cultura.
Hoje, não fiquei rico, mas sou muito feliz obrigado.
Tenho pagado minhas contas (em dia).
Tenho viajado um bocado (a trabalho ou a passeio).
Sigo amando e frequentando minha eterna quebrada Itaim Paulista, sigo tendo projetos culturais pro bairro, sigo fazendo o FAVELA TOMA CONTA no Dia das Crianças.
Sigo...... sobrevivi o bastante pra ter 4.0 de idade, 40 anos bem vividos, mesmo com todas dificuldades da vida, aos mais de 20 anos nos trens da periferia da Z/L, sobrevivi. Mesmo sendo tratado pela governo com descaso e quase virando uma sardinha na lata nos trens.
CPTM, sobrevivi.
Sobrevivi pra hoje ser chamado de referência.
Sou o mesmo Buzo de sempre, não pago simpatia, mas também não sou arrobante, humildade sempre tive e prezo por ela.
Inimigos ??? Pouco fiz pra conquista-los, mas sabe como é, impossível sair da favela e estar hoje na TV, 10 livros publicados, 6 coletâneas literárias lançadas, um filme, viagens, prêmios....... sem ter deixado alguns inimigos pelo caminho, o que alimenta meus inimigos é a inveja. Porque repito, pouco fiz pra conquista-los.
Não sei se são muitos, sei de três, pode ser um pouco mais, só que só tenho ciencia de três.
Pra quem viveu 40 anos, realizou tanta coisa, até que está de bom tamanho.
Assim como o ódio que meus ex-patrões me deram faz parte da minha formação.
A inveja dos inimigos só fortalece, DEUS É MAIS.
Pra quem torce contra fico até com pena, devem passar muita raiva comigo.
Porque eu realizo, sem edital, sem pagar pau, sem roubar nada nem ninguém, eu (com ou sem grana) realizo.
Pensavam que não sabiamos nem ler e estamos lançando livros.
A mesma faculdade que me foi negada, hoje paga cachê pra eu falar.
Chego aos 40 anos bem melhor do que cheguei aos 30.
Amo minha esposa, meu filho, meu trabalho e minha vida.
Sonho ?? Claro que tenho alguns, mas o maior deles sem dúvidas é comprar uma casa propria que não tenho (ainda).
Sobrando um qualquer pra gelada, pra queimar uma carne, ir num jogo do Palmeiras. É bem mais do que sonhei.
Não trabalhar numa empresa das 8h às 18h, sem estar no crime e pagando as contas em dia, já foi meu maior sonho.
Esse, eu já realizei.
O futuro a Deus pertence, vamos seguir batalhando hoje pra colher amanhã.
Sem pagar simpatia, sem pisar na cabeça de ninguém, fazendo a minha, sempre.
Obrigado aos amigos e fãs que fortalecem (muito) no dia a dia.
Aos invejosos, só lamento, até la vista.
Alessandro Buzo
* Primeiro texto escrito depois de completar 40 anos dia 25/09/12
www.buzo.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário